sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Boa Noite, Boa Sorte.

O que esse filme tem de preto e branco também tem de interessante. Após ver o filme, li uma curta biografia de Edward R. Murrow (link abaixo, em inglês). Ele foi realmente uma pessoa extraordinária, sem demagogia, sem medo de expressar sua opinião.

Minhas primeiras palavras após o filme: "É por isso que não assisto televisão."

Quem assistir vai entender. Não poderia concordar mais com as palavras de Ed Murrow. Ditas em 1958, não poderiam ser mais atuais. Algumas pessoas conseguem enxergar além de seu tempo, acho isso muito impressionante. O filme é extraordinário, TODAS as falas de Murrow no filme foram ditas por ele na vida real. George Clooney se ateve aos mínimos detalhes sobre o homem e seu entorno. Conseguiu fazer um filme sobre acontecimentos específicos de uma certa época e, ao mesmo tempo, completamente compreensível mesmo para quem nunca ouviu falar do senador McCarthy ou da "caça aos comunistas" que ocorreu nos Estados Unidos nos anos 50. Um filme curto (aproximadamente 1h40min) e grosso. Perfeito.

Ele morreu novo, com 58 anos. Não sei as causas, mas imagino que o fumo deve ter ajudado.

Imitando Murrow, sem demagogias: A televisão hoje é mesmo uma merda. Com tantos canais à disposição, é incrível que na maior parte do dia não se consiga achar NADA interessante na programação. Isso incluindo alguns programas espetaculosos feitos simplesmente para diversão. Os jornais são horríveis. É raro um notíciário (ou até uma notícia) imparcial ou que não seja direcionada para de alguma forma distrair as pessoas. Devem estar percebendo, então, que eu realmente tenho contato com a televisão, o que parece contrariar minhas palavrás após o filme. Sim, mantenho contato com a televisão, mas me nego a ficar horas por dia diante de algo que hoje se tornou um monte de (e cito Murrow) "...cabos e luzes dentro de uma caixa".

A televisão é um bom veículo de diversão, e deve ser usado para tal, mas não SOMENTE para tal. O pior é que hoje temos uma visão completamente deturpada e doentia de diversão. Não preciso sequer explicar isto, bastam duas palavras: Big Brother. Se Murrow estivesse vivo, tenho certeza que morreria instantaneamente de desgosto ao ver isso, ao ver que o programa de maior audiência em um país como o Brasil é um programa tão supérfluo, que apela à imbecil necessidade que as pessoas têm de se meterem na vida dos outros. A televisão ilude o espectador, criando a impressão de que ele é quase um deus, olhando por cima as pessoas naquele lugar e podendo decidir seus destinos. É, somos semi-deuses, semi-deuses sentados e calados no sofá com o telefone na mão. Fazendo "SHHHH" pra pessoa amada que quer conversar sobre algo que lhe aconteceu, ou simplesmente perguntar se queria peixe ou frango no jantar. Quem sabe não há jantar, somente migalhas de pão no sofá, porque a pessoa amada está ao seu lado, mas é como se não estivesse. E a cozinha está vazia. A sala está colorida pelas luzes da televisão mas as pessoas estão cinza por dentro. Tudo isso enquanto milhões (bilhões?) de reais são desviados, roubados e mal utilizados pelo governo, e mais alguém é assassinado na esquina por 5 reais. Pare de pensar, vote no "paredão" e contribua com parte dos quase 9 milhões de reais faturados com os telefonemas em uma só noite.

Enfim, o filme é mesmo ótimo. Pra quem quer pensar e gosta de personalidades fortes é ainda melhor.

Imaginei uma analogia entre o filme e a situação atual dos Estados Unidos. Em defesa do povo americano (sempre me sinto obrigado a defender o POVO americano, pela minha ótima experiência pessoal e afinidade com vários americanos) posso afirmar que da mesma forma que existiu um Ed Murrow nos anos 50, existem hoje muitos outros que não concordam com o que se passa lá, e que expressam e defendem suas opiniões, o que os custa, muitas vezes, sua segurança e suas carreiras. Reforçando o que disse no post anterior, gostaria que isso se multiplicasse exponencialmente por lá e que chegasse a ter repercussões que forçassem mudanças positivas. Mas na prática, não acho que ocorrerá. Espero estar enganado em relação a isso.

Links (em inglês):

Biografia de Murrow:
http://www.museum.tv/archives/etv/M/htmlM/murrowedwar/murrowedwar.htm

Discurso RTNDA (algumas partes são mostradas no filme):
http://www.turnoffyourtv.com/commentary/hiddenagenda/murrow.html

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Luiz,

Interessante o seu review, com certeza incitou-me a ver o filme.

Concordo com você, em diferentes graus, sobre o grande poder da televisão, infelizmente feito malígno na maioria das vezes. Como você bem disse... "pessoas cinzas". Às vezes sinto falta (aboli a TV), mas continuo firme nos livros e cinema. Para notícias, 10Mbps de conexão à Internet são mais que suficientes!

Parabéns pelo blog e obrigado por compartilhar.

André Carneiro disse...

Boa crítica, vou ver o filme!