sábado, abril 01, 2006

Despercebida, a vida passa.

Ao atravessar a avenida, ele se entristece. Parecia que, em um só golpe, o mundo fora arrancado de seu olhar, que se tornou frio. Chega ao outro lado e, no momento em que pisa no meio fio, o sinal de pedestres fica verde.

- Nem para isso tenho sorte... – Olhando também para o bilhete de loteria em suas mãos.

Dessa vez, aquela calçada parecia mais longa. Não conseguia ver onde terminava, sempre cabisbaixo. Pessoas passavam correndo na direção contrária.

Seus olhos gelados querem olhar para trás, mas resistem.

- Não quero saber... Já tenho problemas suficientes. – Tenta chutar a pequena pedra, mas erra. – Quem dera estivessem correndo atrás de mim...

Nem se lembrava mais da última vez que alguém o olhou nos olhos, segurou suas mãos, deu-lhe algum conforto...

Ninguém ouve o lamento silencioso que começa a brotar em sua garganta. Lágrimas escorrem pelo rosto, mas parecem nunca chegar ao chão.

- Vai passar, vai passar. Só tenho que caminhar um pouco e me distrair. – Decide virar à direita, naquela rua de pedras.

Ali, o mundo parecia outro. Havia silêncio, árvores e pequenas casas coloridas. Em frente à minúscula padaria, uma mulher passeava com seu cachorro.

- Isso, a vida também pode ser bela. – Dá um sorriso, ainda assombrado por agonia.

- Belo cão. – A madame sequer desvia o olhar perdido e o animal rosna.

O sentimento relaxado, que começava a nascer, morre.

- Não pertenço aqui. – Algo o puxava de volta pelo caminho que o levara.

- Vou me atrasar... Quantas horas? – Pergunta a um homem que passa apressado, sem responder.

De volta à avenida, escuta sirenes. No cruzamento, um acidente.

- O que aconteceu? – A mulher ao seu lado, com a boca aberta, olha fixamente para o local e nada diz.

- Será que é impossível conversar com as pessoas? – Pensa, com raiva.

Algo naquela comoção o atraía. Não conseguiu resistir.

- Vou até lá – cedendo à curiosidade.

Era um ônibus, atravessado sobre a faixa de pedestres. Tinha o pára-brisa quebrado e lataria amassada. Homens de branco, agachados, ao lado da roda dianteira, puxavam algo.

Ao retirarem o corpo, ele olhou, enquanto a multidão de cabeças se desviava, fechando olhos e franzindo testas.

Reconheceu aquele rosto e foi sugado por ele.

Sentiu o calor voltar a seus olhos.

- O semáforo estava verde, ele atravessou sem olhar... – Dizia o motorista.

2 comentários:

Anônimo disse...

Doido Luigi.
Achei doido!
Bjokas
Miroka

Anônimo disse...

Cruzes guri!!! Tu te puxa nas coisa que tu escreve!!! Benza Deus!! Grande Beijo Andressa